“Precisamos
de uma ética sem limites que inclua também os animais (…) Está a chegar o tempo
em que as pessoas ficarão admiradas por a raça humana ter existido tanto tempo
sem ter reconhecido que o prejuízo impensado à vida é incompatível com uma
verdadeira ética. A ética na sua forma não qualificada alarga a sua
responsabilidade a tudo o que tem vida” – Albert Schweitzer.
Aqui
fica um primeiro extrato do fantástico livro de Marc Bekoff, PhD, “A Vida Emocional dos Animais – A importância
da alegria, da tristeza e da empatia dos animais estudada por um cientista”.
Devemos
refletir sobre o facto de muitos animais sentirem paixão e sofrimento – sentem
amor e dor – e depois considerar todos os modos com que tratamos atualmente os
animais na nossa sociedade e decidir o que está certo e o que está errado.
Quando reconhecemos algo que está errado devemos trabalhar para mudar.
Os
animais são companheiros com quem partilhamos as nossas casas. São o nosso
alimento. Estão em exibição nos nossos jardins zoológicos e enchem os nossos
laboratórios de investigação científica. Também vivem “livremente” no seu
ambiente natural, nas margens de uma civilização humana que os invade
constantemente. Precisamos de olhar para todas essas áreas e decidir se estamos
a cuidar devidamente dos animais. Frequentemente, não cuidamos e, como
sociedade, temos muitos motivos para termos vergonha pela forma como
interagimos com outros animais. Precisamos de mais verificações e balanços nas
nossas interações. Subestimamos e silenciamos os sentimentos por rotina.
A
existência de sentimentos é a principal razão para cuidarmos melhor dos
animais. As questões que dizem respeito aos sentimentos são importantes e
extremamente difíceis, mas também temos de distinguir entre sentimento e saber.
O bem-estar centra-se no que os animais sentem, não no que sabem. Será que
realmente importa se os macacos num jardim zoológico, as ratazanas num
laboratório ou as vacas numa quinta alguma vez entendem o que se está a passar
à sua volta, ou o que os seres humanos lhes estão a fazer, se conseguem sentir
dor e sofrer? Os animais nestas situações dependem completamente de nós e o seu
comportamento diz-nos quando estão saudáveis e felizes, ou tristes e a sofrer.
Os animais não conseguem ligar para o 112 numa emergência; dependem da nossa
boa vontade e compaixão. Embora os animais não possam consentir na forma como
são tratados, protestam certamente publicamente quando estão a sofrer. A sua
dor é fácil de ver e é ignorada demasiadas vezes.
(…)
Contudo,
saliento que muitas vezes aquilo que passa por “bom cuidado” na nossa sociedade
simplesmente não é suficiente. Os seres humanos fazem muitas vezes distinções
entre a forma como tratam os animais “espertos” e os animais “burros” e,
especialmente em contextos institucionais, o cuidado dos animais habitualmente
deteriora-se quando se torna menos conveniente (ou seja, menos rentável ou um
impedimento ao “progresso”). Isto não é bom que chegue. Precisamos de prestar o
melhor cuidado a todos os animais constantemente e trabalhar no sentido de não os
usarmos de todo.
(…)
No
que se refere às nossas relações com os animais, a nossa visão de quem eles são
e o que significam para nós exige que mudemos a forma como sempre os tratámos.
Sabemos que os seres animais não são “coisas” que existem para nossa conveniência.
Os animais são seres subjetivos que têm sentimentos e pensamentos e merecem
respeito e consideração. Não temos o direito de os subjugar ou dominar para
nosso proveito egoísta – para melhorar as nossas vidas piorando as dos animais.
Além disso, sendo nós próprios seres com consciência de nós próprios e com
sentimentos, conseguimos reconhecer o sofrimento e somos obrigados a diminuí-lo
sempre que pudermos. Ao tomar decisões que ajudam os animais, acrescentamos
compaixão e não crueldade a um mundo “ferido”, como lhe chama o ecologista Paul
Ehrlich.