Com
quem estamos aqui? Que tipos de mentes povoam este mundo? São algumas das
questões propostas por Carl Safina em Para
lá das palavras – O que pensam e sentem os animais?
Os
seres humanos consideram-se a bitola do mundo, que todas as coisas devem ser
comparadas connosco. Mas, de facto, todas as faculdades que nos tornam humanos
(e.g. empatia, comunicação, dor, fabrico de ferramentas) existem em diferentes
graus entre outras mentes que partilham o mundo connosco.
Os
animais dotados de coluna vertebral (peixes, anfíbios, répteis, aves e
mamíferos) partilham basicamente o mesmo esqueleto, órgãos, sistemas nervoso e
hormonal, bem como comportamentos.
Há o
hábito de dizer “seres humanos e animais” como se a vida apenas encaixasse em
duas categorias: nós e todos os outros; e continuamos a insistir, com
insegurança, que os “animais” não são como nós, embora sejamos todos animais!
No
que diz respeito à Consciência,
pode-se dizer, de forma simplificada, que é a
coisa que se sente como algo. Se um corte doer, somos conscientes. Essa
parte de nós que sabe que o corte dói, que sente e pensa, é a nossa mente.
Por
sua, vez a Senciência é a capacidade de sentir sensações. A
Senciência dos seres humanos, dos elefantes, dos escaravelhos, das amêijoas,
das alforrecas e das árvores varia numa escala móvel, desde a complexidade em
pessoas até à aparente inexistência nas plantas.
A Cognição refere-se à capacidade de
apreender e adquirir conhecimento e entendimento. O Pensamento é o processo através do qual se considera algo que foi
apreendido. Como tudo o que tem de ver com os seres vivos, o pensamento também
ocorre numa escala móvel de amplo espetro.
A
Senciência, a Cognição e o Pensamento são processos que se sobrepõem nas mentes
conscientes.
Será
que os elefantes, os insetos ou qualquer outro animal poderão ser realmente
conscientes sem o grande e enrugado córtex cerebral onde ocorre o pensamento
humano? Por sinal, sim, até os seres humanos podem.
Roger
perdeu cerca de 95% do seu córtex cerebral após uma infeção, não consegue
recordar a década anterior à infeção, não consegue sentir sabor, nem cheiro, e
tem grande dificuldade em formar novas memórias. No entanto, sabe quem é,
reconhece-se num espelho e em fotografias, e apresenta um comportamento
relativamente normal junto de outras pessoas, sendo capaz de fazer humor e
sentir-se envergonhado. Tudo com um cérebro que não se assemelha a um cérebro
humano.
Essa
trivial noção humana de que só os seres humanos experimentam a consciência é
retrógrada.
Em
2012, os cientistas que estavam a redigir a Declaração
de Cambrigde sobre a Consciência concluíram que todos os mamíferos e aves,
bem como muitas outras criaturas, incluindo os polvos, possuem sistemas
nervosos capazes de consciência (os polvos usam ferramentas e resolvem
problemas com a mesma destreza que a maioria dos símios). A ciência está a
confirmar o óbvio: os outros animais ouvem, veem e cheiram com os seus ouvidos,
olhos e narizes; assustam-se quando encontram motivos para ter medo e sentem-se
felizes quando parecem felizes.
“O que quer que seja a consciência (…)
os cães, os pássaros e um abundante número de outras espécies possuem-na. (…)
Também eles experimentam a vida.”
– Christof Koch.
“O principal motivo para estar aqui
com minudências é aperceber-me de que, comparando com a estranheza das plantas
e as tremendas diferenças entre plantas e animais, uma elefanta a cuidar da sua
cria é algo tão próximo de nós que ela podia muito bem ser minha irmã.” – Carl Safina.
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