Os
animais pensam? “Of course
they do. How could they not think and manage to survive in the world?” - Marc
Hauser, Professor de Psicologia em Harvard.
No
outro dia fui a uma aula de treino canino, supostamente baseada em métodos científicos
de ensino, em que o formador começou por perguntar quem dos presentes achava
que os cães pensam. Alguns (muito poucos, entre os quais me incluo) levantaram
prontamente a mão em sinal de resposta afirmativa. Logo de seguida, o formador
disse que não, que estávamos errados, que os cães não pensam, de maneira nenhuma, mas que apenas aprendem por
instinto.
Não
sou investigadora (já fui, há uns bons anos, bolseira de investigação, mas na
área de fitotecnia), nem neurocientista, mas leio a respeito deste e outros
temas, e atrevo-me a afirmar que os cães pensam… melhor, os animais pensam.
Os
livros de António Damásio (neurocientista) referem que os animais
experienciam emoções e sentimentos, e que pensam.
“(…) o facto de um dado
organismo possuir uma mente significa que ele forma representações neurais que
se podem tornar em imagens que são manipuladas num processo chamado pensamento,
o qual acaba por influenciar o comportamento em virtude do auxílio que confere
em termos de previsão do futuro, de planificação (…) e da escolha da próxima
ação” – em O Erro de Descartes.
Recentemente,
começou a ser utilizada no estudo do comportamento e emoções dos cães uma
técnica não invasiva, a ressonância magnética funcional, tendo-se chegado à
conclusão que o cérebro dos cães funciona como o cérebro humano, partilhando as
mesmas estruturas básicas e incluindo uma região cerebral associada com emoções
positivas.
“Espantosamente”
(para mim não é espanto nenhum), já em 1983 Konrad Lorenz (etólogo) tinha
mencionado que a mente animal, nos seus mecanismos mais íntimos, era semelhante
à nossa.
Para
a comunidade científica já não se trata de perguntar se os animais pensam, mas como pensam. Os animais poderão ter
processos mentais diferentes dos nossos, mas não há dúvida que pensam.
Nicholas
Dodman (médico veterinário) refere o seguinte: “Em relação aos animais, a inteligência, as emoções e a consciência de
si próprio sempre foram temas altamente controversos que levaram séculos de
debate relativamente infrutífero, até agora. Nos últimos quinze anos,
continuaram a surgir evidências que apoiam a convicção de que os animais são
seres pensantes e sencientes, que se apercebem das suas circunstâncias e
estados emocionais, bem como os de outros”.
Admitir
e aceitar esta realidade implica que muitas das atitudes do chamado “ser humano”
para com os animais sejam muito mais censuráveis e inadmissíveis.
Fontes:
Damásio, António (1994), O Erro de
Descartes – Emoção, razão e o cérebro humano, Círculo de Leitores.
Dodman, Nicholas (2002), Só lhes falta
falar – Histórias de cães, de gatos e das suas pessoas, Pergaminho.
Lorenz, Konrad (1983), E o Homem
encontrou o Cão, Relógio d’Água.
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