quinta-feira, 13 de julho de 2017

Todos temos o mesmo cérebro básico

Com quem estamos aqui? Que tipos de mentes povoam este mundo? São algumas das questões propostas por Carl Safina em Para lá das palavras – O que pensam e sentem os animais?
 
Os seres humanos consideram-se a bitola do mundo, que todas as coisas devem ser comparadas connosco. Mas, de facto, todas as faculdades que nos tornam humanos (e.g. empatia, comunicação, dor, fabrico de ferramentas) existem em diferentes graus entre outras mentes que partilham o mundo connosco.
 
Os animais dotados de coluna vertebral (peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos) partilham basicamente o mesmo esqueleto, órgãos, sistemas nervoso e hormonal, bem como comportamentos.
 
Há o hábito de dizer “seres humanos e animais” como se a vida apenas encaixasse em duas categorias: nós e todos os outros; e continuamos a insistir, com insegurança, que os “animais” não são como nós, embora sejamos todos animais!
 
No que diz respeito à Consciência, pode-se dizer, de forma simplificada, que é a coisa que se sente como algo. Se um corte doer, somos conscientes. Essa parte de nós que sabe que o corte dói, que sente e pensa, é a nossa mente.
 
Por sua, vez a Senciência é a capacidade de sentir sensações. A Senciência dos seres humanos, dos elefantes, dos escaravelhos, das amêijoas, das alforrecas e das árvores varia numa escala móvel, desde a complexidade em pessoas até à aparente inexistência nas plantas.
 
A Cognição refere-se à capacidade de apreender e adquirir conhecimento e entendimento. O Pensamento é o processo através do qual se considera algo que foi apreendido. Como tudo o que tem de ver com os seres vivos, o pensamento também ocorre numa escala móvel de amplo espetro.
 
A Senciência, a Cognição e o Pensamento são processos que se sobrepõem nas mentes conscientes.
 
Será que os elefantes, os insetos ou qualquer outro animal poderão ser realmente conscientes sem o grande e enrugado córtex cerebral onde ocorre o pensamento humano? Por sinal, sim, até os seres humanos podem.
 
Roger perdeu cerca de 95% do seu córtex cerebral após uma infeção, não consegue recordar a década anterior à infeção, não consegue sentir sabor, nem cheiro, e tem grande dificuldade em formar novas memórias. No entanto, sabe quem é, reconhece-se num espelho e em fotografias, e apresenta um comportamento relativamente normal junto de outras pessoas, sendo capaz de fazer humor e sentir-se envergonhado. Tudo com um cérebro que não se assemelha a um cérebro humano.
 
Essa trivial noção humana de que só os seres humanos experimentam a consciência é retrógrada. 
 
Em 2012, os cientistas que estavam a redigir a Declaração de Cambrigde sobre a Consciência concluíram que todos os mamíferos e aves, bem como muitas outras criaturas, incluindo os polvos, possuem sistemas nervosos capazes de consciência (os polvos usam ferramentas e resolvem problemas com a mesma destreza que a maioria dos símios). A ciência está a confirmar o óbvio: os outros animais ouvem, veem e cheiram com os seus ouvidos, olhos e narizes; assustam-se quando encontram motivos para ter medo e sentem-se felizes quando parecem felizes. 
 
“O que quer que seja a consciência (…) os cães, os pássaros e um abundante número de outras espécies possuem-na. (…) Também eles experimentam a vida.” – Christof Koch.
 
“O principal motivo para estar aqui com minudências é aperceber-me de que, comparando com a estranheza das plantas e as tremendas diferenças entre plantas e animais, uma elefanta a cuidar da sua cria é algo tão próximo de nós que ela podia muito bem ser minha irmã.” – Carl Safina. 
 
Fonte: Safina, Carl (2016), Para lá das Palavras – O que pensam e sentem os animais, Lisboa, Relógio d’Água Editores.
http://beyond-words.net/

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Uma verdade inconveniente

Philip Low é investigador na Universidade Stanford e no MIT (Massachusetts Institute of Technology), ele e mais 25 investigadores entendem que as estruturas cerebrais que produzem a consciência nos seres humanos também existem nos animais: “As áreas do cérebro que nos distinguem de outros animais não são as que produzem a consciência”.
De seguida apresentam-se excertos de uma entrevista dada por Philip Low.

Estudos sobre o comportamento animal já afirmam que vários animais possuem certo grau de consciência. O que a neurociência diz a respeito?
Philip Low: Descobrimos que as estruturas que nos distinguem de outros animais, como o córtex cerebral, não são responsáveis pela manifestação da consciência. Se o restante do cérebro é responsável pela consciência e essas estruturas são semelhantes entre seres humanos e outros animais, como mamíferos e pássaros, concluímos que esses animais também possuem consciência.

Quais animais têm consciência?
Philip Low: Sabemos que todos os mamíferos, todos os pássaros e muitas outras criaturas, como o polvo, possuem as estruturas nervosas que produzem a consciência. Isso quer dizer que esses animais sofrem. É uma verdade inconveniente: sempre foi fácil afirmar que animais não têm consciência. Agora, temos um grupo de neurocientistas respeitados que estudam o fenômeno da consciência, o comportamento dos animais, a rede neural, a anatomia e a genética do cérebro. Não é mais possível dizer que não sabíamos.

Que tipo de comportamento animal dá suporte à ideia de que eles têm consciência?
Philip Low: Quando um cão está com medo, com dor, ou feliz são ativadas no seu cérebro estruturas semelhantes às que são ativadas nos humanos quando demonstramos medo, dor e prazer. Um comportamento muito importante é o autorreconhecimento no espelho. De entre os animais que conseguem fazer isso, além dos seres humanos, estão os golfinhos, chimpanzés, bonobos, cães e um pássaro chamado pica-pica.

O que pode mudar com o impacto dessa descoberta?
Philip Low: Os dados são perturbadores, mas muito importantes. No longo prazo, penso que a sociedade dependerá menos dos animais. Será melhor para todos. A probabilidade de um remédio proveniente de testes efetuados em animais ser testado em humanos (apenas testado, pode ser que nem funcione) é de 6%. É uma péssima probabilidade. Um primeiro passo é desenvolver abordagens não invasivas. Não acho ser necessário tirar vidas para estudar a vida. Penso que precisamos apelar para nossa própria engenhosidade e desenvolver melhores tecnologias para respeitar a vida dos animais. Temos que colocar a tecnologia numa posição em que serve os nossos ideais, em vez de competir com eles.
www.td.org

terça-feira, 12 de julho de 2016

Journal On Animal Feeling

Uma publicação científica pode incentivar a realização de investigações novas, criar comunidades novas de investigadores e contribuir para estabelecer novas áreas de conhecimento. Por exemplo, a ciência cognitiva nasceu em 1978, quando Stevan Harnad implementou a publicação Behavioral and Brain Sciences

Stevan Harnad lançou agora a Animal Sentience: An Interdisciplinary Journal on Animal Feeling que se dedica ao estudo da senciência animal (o que os animais sentem, como e porquê), em sistema open access e com artigos publicados na internet. Os primeiros artigos foram dedicados à dor nos peixes (sentem dor? como podemos saber?), bem como ao luto nos animais.


"The inaugural issue launches with the all-important question (for fish) of whether fish can feel pain. The members of the nonhuman species under discussion will not be able to join in the conversation, but their spokesmen and advocates, the specialists who know them best, will." - Stevan Harnad

terça-feira, 24 de maio de 2016

Uma Ciência mais Rigorosa

“Um animal que seja a menos (experimentado) já vale a pena. Assim tudo o que reduza o número de animais nesta prática é um passo enorme” – Constança Carvalho, Sociedade Portuguesa para a Educação Humanitária (Conferência Experimentação Animal - A dissecação de um mito).

“É lamentável que estejamos ainda no ponto do bem-estar animal e não no ponto das alternativas à experimentação com animais” – Alexandra Pereira, Veterinária Municipal de Sintra (Conferência Experimentação Animal - A dissecação de um mito).

“Há uma enorme dificuldade por parte dos investigadores em utilizar métodos de experimentação alternativos. As instituições e a comunidade científica continuam a exigir dados validados nesta muleta mais que partida” – Luísa Bastos, Investigadora em Engenharia Biomédica (Conferência Experimentação Animal - A dissecação de um mito).

No dia 8 de maio de 2015, no decorrer da II Conferência Internacional de Alternativas à Experimentação Animal (www.icaae.com), foi formulada a Declaração de Lisboa pelo Doutor Philip Low, Doutor Andrew Knight e Doutor João Barroso.

A Declaração de Lisboa foi assinada pelos presentes (diversos cientistas que trabalham ativamente com modelos animais e modelos alternativos) e constituiu um consenso na comunidade científica no que diz respeito à necessidade de uma maior transparência e objetividade na ciência que recorre a modelos animais, salientando ainda a importância de avaliar objetivamente os custos e benefícios desses projetos científicos.

A Declaração recomenda que os animais utilizados em procedimentos científicos sejam filmados permanentemente, sendo as filmagens disponibilizadas sempre que solicitadas para consulta por comités de ética institucionais e independentes, entidades financiadoras e autoridades legais.
Esta medida garantirá o cumprimento dos protocolos aprovados, maximizando o bem-estar animal e o retorno do investimento público neste tipo de investigação.

No sentido de apelar por uma ciência mais rigorosa foi constituída uma petição que solicita (http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT77270):

- Obrigatoriedade da existência de Comités de Ética em todos os laboratórios de investigação e instituições de ensino superior que utilizam modelos animais;

- Obrigatoriedade da existência de filmagens permanentes de todos os animais utilizados em procedimentos científicos, durante e entre as intervenções;

- Obrigatoriedade de disponibilizar as filmagens sempre que solicitadas pelos Comités de Ética, nacionais e independentes, entidades financiadoras e autoridades legais;

- Obrigatoriedade da existência de uma escala objetiva e uniforme que permita a todos os Comités de Ética avaliar o nível expetável de sofrimento dos animais envolvidos;

- Obrigatoriedade de elaboração de um relatório público das experiências realizadas com animais, até um máximo de 3 anos após a execução das mesmas;

- Criação de uma base de dados nacional de especialistas de diversas áreas de saúde humana, de modo a que os comités de ética possam selecionar os especialistas mais relevantes para oferecer um parecer vinculativo acerca da utilidade expetável da experiência proposta.


“Vai-se defendendo que não devemos utilizar chimpazés pela similitude com o ser humano. Mas com os ratos partilhamos 99,2% do nosso ADN, com os sapos 96%...onde se situa a fronteira da familiaridade? Onde termina a senciência?" – Luís Vicente, Professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Conferência Experimentação Animal - A dissecação de um mito).

terça-feira, 19 de abril de 2016

Criminalização de maus tratos a animais de companhia – Perspetivas quanto à aplicação da nova legislação

Se hoje não é mais possível sustentar seriamente que os animais são máquinas e, como tal, incapazes de experimentar dor ou sofrimento, não é menos verdade que o respetivo estatuto jurídico nem sempre acompanhou as evidências científicas.

A senciência dos animais é inquestionável, abrangendo as espécies compreendidas na Declaração de Cambridge de 2012 – mamíferos, aves e moluscos cefalópodes; tratando-se de um conceito aberto e dependente dos avanços do conhecimento científico.
A capacidade de sofrimento dos animais tem sido apontada como fundamento da consideração ética que lhes é devida, bem como do interesse no não-sofrimento e respetiva tutela.
Recorde-se a célebre observação do utilitarista oitocentista, Jeremy Bentham, sublinhando que a questão relevante não é se os animais podem raciocinar ou falar, mas sim se podem sofrer.
“The question is not, Can they reason? nor, Can they talk?
but, Can they suffer?”

Em Portugal, os animais continuam a ser designados e tratados como “coisas” pelo Código Civil, que data de 1966 e praticamente se mantém inalterado a esse respeito.
A falta de um estatuto jurídico próprio para os animais não constituiu obstáculo a alguma intervenção penal, materializada na neocriminalização de condutas de abandono e de violência injustificada contra certos animais, mediante a aprovação da recente Lei n.º 69/2014, de 29 de agosto.

De referir que a criminalização de condutas de violência injustificada contra os animais vem merecendo consenso alargado nas sociedades civis e é hoje a realidade jurídico-positiva de vários países que integram a União Europeia, como Alemanha, Áustria, Reino Unido, França e Espanha.
Aspetos positivos da Lei n.º 69/2014

Esta lei constitui um marco histórico do direito animal, em Portugal, no âmbito da proteção dos animais, tendo sido aditados ao Código Penal dois novos tipos de ilícito que punem os maus tratos e o abandono (inseridos num título designado “Dos crimes contra animais de companhia”).
Não se pode continuar a ignorar que a violência contra animais está intrinsecamente relacionada com a violência inter-relacional e que o abandono constitui um verdadeiro flagelo, com sérias repercussões para a integridade e saúde dos animais e para a saúde pública. Ademais, aos novos tipos de ilícito contra animais foi atribuída a natureza de crimes públicos, agilizando e reforçando a ação penal.

Aspetos problemáticos ou insuficientes
A restrição da tutela penal aos “animais de companhia”: alguns animais são mais animais do que outros…

A principal objeção à Lei n.º 69/2014 reside no seu limitado âmbito de aplicação, uma vez que abrange apenas os chamados “animais de companhia”. Assim, para efeitos de determinação dos animais protegidos, o legislador optou por um critério utilitarista, sendo exigível que se trate de animal detido ou destinado a ser detido por seres humanos para entretenimento e companhia destes.
Sem prejuízo de se reconhecer a importância crucial dos “animais de companhia” para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, entende-se que o crime de maus tratos devia abranger todos os animais sencientes ou, pelo menos, os animais vertebrados.

Não é curial que, perante as mesmas condutas de desvalor e de violência injustificada, se discriminem os animais agredidos em função da sua utilidade social, privilegiando os que façam companhia e entretenham.
De referir o parecer proferido pelo Conselho Superior da Magistratura na parte em que considera que “à semelhança do que acontece na Lei de Proteção dos Animais alemã, deveria caber a violência ou os maus tratos injustificados sobre qualquer animal vertebrado e não apenas sobre os animais de companhia”. Assim, “não se compreende a razão para se considerar legítima a exclusão do âmbito da proteção da norma, os casos de violência ou maus tratos injustificados infligidos a um burro, a uma vaca, a um cavalo ou a um veado”.

A exclusão dos maus tratos psicológicos
São previstas e punidas as condutas dolosas consistentes em infligir dor, sofrimento ou quaisquer outros maus tratos físicos. Desta forma, o legislador excluiu da previsão penal as condutas causadoras de dor ou sofrimento psicológico, nomeadamente, stresse intenso.

Acresce que grande parte dos maus tratos sofridos pelos “animais de companhia” e das queixas informais devem-se às deficientes condições em que são alojados e mantidos, não dispondo das condições e do espaço adequados às suas necessidades fisiológicas e etológicas.
Não se vislumbra que seja menos grave manter um animal, como um cão ou um gato, enfiados em jaulas de dimensões exíguas ou presos, a céu aberto, por meio de corrente de escasso comprimento, durante semanas, meses, anos, a fio, do que açoitar o mesmo animal.

Ausência de penas acessórias específicas
Tendo em conta que o Código Penal não prevê qualquer pena acessória, seria conveniente a inclusão de pena de interdição de detenção de animais e de exercício de qualquer profissão ou atividade relacionada com animais.

É que ainda que o arguido seja acusado, e venha a ser condenado, pela prática de um crime de maus tratos a “animal de companhia”, não há sanção acessória que possibilite a perda do animal a favor do Estado ou a favor de alguma associação de proteção animal.
O que, por sua vez, origina novas questões e problemas relativamente ao bem-estar físico e psicológico desses animais. Não basta criminalizar e remover o animal do agressor, é também necessário criar condições para a assegurar o seu bem-estar futuro.
 

 
 






Fonte: Moreira, Alexandra Reis (2015), Perspetivas quanto à aplicação da nova legislação, Atas da Conferência “Animais: Direitos e Deveres”, Instituto de Ciências Jurídico-Políticas.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Parar e cheirar as rosas...

Os cães conhecem e vivem o mundo através do seus narizes. Ao contrário de nós humanos que usamos mais a visão, do que o olfato, nas nossas experiências quotidianas.

Cheirar é mentalmente estimulante para um cão. É assim que ele "vê" o que se tem passado no seu meio ambiente e fica a par de todos os "pee-mails" das redondezas. 
O nariz canino é muito mais potente do que o nariz humano. A nós cheira-nos a molho de esparguete, mas eles conseguem detetar cada ingrediente daquele molho individualmente.

Ademais, o chamado "nosework" é uma forma super fácil de libertar energia e diminuir níveis de stress. O cão fica satisfeito, cansado e renovado mentalmente.

Assim, vamos deixar os nossos cães parar e "cheirar as rosas". Ou seja, deixá-los explorar o seu mundo olfativo à vontade; deixá-los usar intensamente os narizes.
Afinal de quem é o passeio?




Plena satisfação

terça-feira, 17 de novembro de 2015

A Vida Emocional dos Animais - Extrato I

“Precisamos de uma ética sem limites que inclua também os animais (…) Está a chegar o tempo em que as pessoas ficarão admiradas por a raça humana ter existido tanto tempo sem ter reconhecido que o prejuízo impensado à vida é incompatível com uma verdadeira ética. A ética na sua forma não qualificada alarga a sua responsabilidade a tudo o que tem vida” – Albert Schweitzer.

Aqui fica um primeiro extrato do fantástico livro de Marc Bekoff, PhD, “A Vida Emocional dos Animais – A importância da alegria, da tristeza e da empatia dos animais estudada por um cientista”.

Devemos refletir sobre o facto de muitos animais sentirem paixão e sofrimento – sentem amor e dor – e depois considerar todos os modos com que tratamos atualmente os animais na nossa sociedade e decidir o que está certo e o que está errado. Quando reconhecemos algo que está errado devemos trabalhar para mudar.

Os animais são companheiros com quem partilhamos as nossas casas. São o nosso alimento. Estão em exibição nos nossos jardins zoológicos e enchem os nossos laboratórios de investigação científica. Também vivem “livremente” no seu ambiente natural, nas margens de uma civilização humana que os invade constantemente. Precisamos de olhar para todas essas áreas e decidir se estamos a cuidar devidamente dos animais. Frequentemente, não cuidamos e, como sociedade, temos muitos motivos para termos vergonha pela forma como interagimos com outros animais. Precisamos de mais verificações e balanços nas nossas interações. Subestimamos e silenciamos os sentimentos por rotina.

A existência de sentimentos é a principal razão para cuidarmos melhor dos animais. As questões que dizem respeito aos sentimentos são importantes e extremamente difíceis, mas também temos de distinguir entre sentimento e saber. O bem-estar centra-se no que os animais sentem, não no que sabem. Será que realmente importa se os macacos num jardim zoológico, as ratazanas num laboratório ou as vacas numa quinta alguma vez entendem o que se está a passar à sua volta, ou o que os seres humanos lhes estão a fazer, se conseguem sentir dor e sofrer? Os animais nestas situações dependem completamente de nós e o seu comportamento diz-nos quando estão saudáveis e felizes, ou tristes e a sofrer. Os animais não conseguem ligar para o 112 numa emergência; dependem da nossa boa vontade e compaixão. Embora os animais não possam consentir na forma como são tratados, protestam certamente publicamente quando estão a sofrer. A sua dor é fácil de ver e é ignorada demasiadas vezes.
(…)
Contudo, saliento que muitas vezes aquilo que passa por “bom cuidado” na nossa sociedade simplesmente não é suficiente. Os seres humanos fazem muitas vezes distinções entre a forma como tratam os animais “espertos” e os animais “burros” e, especialmente em contextos institucionais, o cuidado dos animais habitualmente deteriora-se quando se torna menos conveniente (ou seja, menos rentável ou um impedimento ao “progresso”). Isto não é bom que chegue. Precisamos de prestar o melhor cuidado a todos os animais constantemente e trabalhar no sentido de não os usarmos de todo.
(…)
No que se refere às nossas relações com os animais, a nossa visão de quem eles são e o que significam para nós exige que mudemos a forma como sempre os tratámos. Sabemos que os seres animais não são “coisas” que existem para nossa conveniência. Os animais são seres subjetivos que têm sentimentos e pensamentos e merecem respeito e consideração. Não temos o direito de os subjugar ou dominar para nosso proveito egoísta – para melhorar as nossas vidas piorando as dos animais. Além disso, sendo nós próprios seres com consciência de nós próprios e com sentimentos, conseguimos reconhecer o sofrimento e somos obrigados a diminuí-lo sempre que pudermos. Ao tomar decisões que ajudam os animais, acrescentamos compaixão e não crueldade a um mundo “ferido”, como lhe chama o ecologista Paul Ehrlich.


quarta-feira, 29 de julho de 2015

Uma aventura… no hospital veterinário! Parte 2

No dia da consulta, pensava eu que ia só passear de carro, saltei todo contente para o banco de trás e lá fui eu de beiças ao vento. Chegamos ao local do hospital e eu saí do carro todo contente, mas quando me deparei com a porta de entrada estanquei e colei as 4 patas ao chão. A minha humana teve de me levar ao colo para a sala de espera onde eu procedi de imediato a esconder-me debaixo da cadeira mais próxima. É que não gosto nada de sítios que não conheço, ainda por cima com várias pessoas estranhas a olhar para mim.
 
Esperamos um pouco, pois o médico especialista em ortopedia estava a terminar uma cirurgia, e de repente chamam o meu nome para entrar no gabinete. Novo estancanço e nova ida ao colo, entramos no gabinete do médico.
Fui outra vez apalpado nas minhas perninhas e tronco, tendo o Sr. Dr. concluído que o procedimento seguinte era tirar-me uma radiografia (parece-me que falaram na hipótese de uma TAC, mas com os meus sintomas não se justificava). E, assim, o Sr. Dr. pega em mim, põe-me debaixo do braço e eu, com um gemido de incerteza, lá fui rumo à sala dos tais raios X.
 
Quando voltei ao gabinete para ter com a minha humana, que estava acompanhada pela minha avozinha, vinha a arfar muito, até parecia que tinha corrido a meia maratona, mas não, eram só uns nervositos por estar longe da minha família.
 
Por esta altura já estava mais habituado ao Sr. Dr. que até era um tipo bem simpático e atencioso, e afinal não me queria fazer mal nenhum (até disse que eu me tinha portado muito bem e tinha ficado muito quietinho, conforme me tinha pedido).
 
De seguida, em simultâneo com a visualização das radiografias no PC, explicou todos os pormenores do meu caso clínico, tendo referido que tenho luxação dos joelhos, (estando o esquerdo pior do que o direito) e que, desta forma, terei de ser operado a cada joelho para corrigir a situação, evitando dores quando ando, formação de artroses ou roturas de ligamentos.
 
As minhas humanas ficaram um pouco apreensivas e fizeram muitas perguntas para entenderem bem a situação, como seriam as operações e a recuperação. Parece que vou ter de usar um daqueles “colares da vergonha” depois da operação, não vou poder saltar para lado nenhum, nem subir ou descer escadas, e vou ter de fazer passeios pequeninos (assim, como é que vou ter tempo para encontrar as minhas namoradas caninas?).
 

O Sr. Dr. concluiu a consulta com a indicação que tenho peso a mais (ou seja, estou um bocado para o badocha) e que tenho de fazer dieta. Por isso, nada de biscoitos e vou passar a comer uma comida xpto, boa para as articulações e menos calórica também. Será saborosa? Espero bem que sim.
 
Quando a consulta acabou e saímos para fazer o pagamento na receção, eu só queria era ir lá para fora, cheirar e fazer xixi em todas as árvores das redondezas que, por acaso, estavam cheias de mensagens caninas deixadas por outros pacientes do hospital. E foi o que fiz com muita alegria.
 

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Uma aventura… no hospital veterinário! Parte 1

Pois é, e assim começa uma nova fase da minha vida de cão…
 
Ontem fui a uma consulta de checkup na minha Clínica Veterinária, fui examinado da cabeça aos pés e foram-me descobertas algumas mazelas menores, mas quando o Médico Vet me quis levantar as patas traseiras reparou nuns estalidos esquisitos que vinham dos meus joelhinhos… Começou a ver melhor, puxou as minhas patinhas traseiras, fez-lhe rotações de todas as espécies, apalpou-as e concluiu que eu tenho subluxação dos joelhos.
 
Eu já andava com algumas dores de vez em quando, mas nunca tinha dito nada aos meus humanos para não se preocuparem comigo. Mas depois desta sessão clínica fiquei todo dorido e fui para casa a ganir um bocadinho. À noite quando fui dar uma volta pelo bairro também gani às vezes e custa-me a fazer certos movimentos, como subir e descer escadas.
 
Quando os meus humanos me quiseram fazer festas também gani e virei-me para trás para lhes mostrar que me dói bastante aquela zona.
 
Posto isto, a minha humana decidiu que o melhor é eu ir a uma consulta de especialidade de ortopedia no hospital veterinário para ser acompanhado mais de perto e assim evitar ao máximo que a minha condição progrida. Afinal ainda tenho só 6 anos, ainda sou muito novo para já ter problemas nos meus joelhinhos.
 
A consulta é daqui a uma semana, mas já estou um pouco nervoso. Será que me vão fazer radiografias? Ou uma TAC? E depois, terei de fazer fisioterapia naquela piscina cheia d’água? É que não gosto muito de me meter dentro d’água… Estou um pouco preocupado com tudo isto, mas a minha humana diz que é para meu bem, para me sentir bem e sem dores.
 
Depois conto como correu a minha consulta no hospital veterinário. Wish me luck…
 
 
Listen With Your Eyes to Tell if Your Pet is in Pain