O Programa Europeu de Reprodução de Espécies Ameaçadas (EEP) permite uma ação conjunta dos parques zoológicos para manter populações geneticamente saudáveis para que se reproduzam com o objetivo final da reintrodução em habitat natural. Este programa inclui análises demográficas e genéticas para a elaboração de planos para o futuro maneio das espécies, tendo em vista a sua reprodução e formação de populações saudáveis estáveis para a sua conservação.
Um mundo onde para todos é claro como água que os animais não são meras "coisas", mas sim seres vivos que têm as mais variadas emoções e sentimentos. Pelo caminho, o cão Pinóquio vai com alegria e paciência esclarecendo mentes mais cépticas.
terça-feira, 26 de agosto de 2014
sábado, 23 de agosto de 2014
Pelo meu mundo... Forever Family!
Durante uns 4 meses vivi com o John e a sua família, mas a menina que me chamou de Pinóquio estava sempre a espirrar e a tossir e, às vezes, até ficava doente. Um dia o John levou-me para casa de outros dois humanos (eram os pais dele) e deixou-me uns tempos com eles. Embora me fossem visitar todas as semanas, fiquei um pouco triste por já não estar todos os dias com a minha família adotiva.
Numa tarde, cinzenta e chuvosa, depois de me levar a passear, o John disse-me para me sentar na minha caminha e ficar quietinho e *flash* tirou-me uma fotografia.
*Até fiquei muito catita*
Segui-o até à sala, onde estava uma caixa à qual o John ligou a máquina de tirar fotografias. Foi então que vi o que ele escrevia num sítio chamado Facebuke:
"Cãozinho Border Collie, com cerca de 10 meses, para adoção responsável. Muito meigo e sossegado. Por motivos de reação alérgica da minha filha".
Fiquei de boca aberta e a língua até me descaiu para fora... Ia ficar outra vez sem família? Ia voltar outra vez para o canil? Bem, ao menos, ia voltar a ver os meus amigos patudos Velocity, Brutus e Lucky. Será que eles ainda lá estavam? *snif, snif*
E assim passaram algumas semanas, enquanto eu magicava no que me iria desta vez acontecer... Até que dia 26 de agosto de 2010, o John apareceu em casa dos pais, pegou em mim com muito cuidado e meteu-me no carro. Para onde iríamos agora?
A viagem durou apenas alguns minutos e chegamos a um parque de estacionamento. O John abriu a porta, eu saltei cá para fora... e... foi então que os vi!!!
A minha mamã Claudia e o meu avôzinho Álvaro!!!
*Mais tarde soube que a minha mamã tinha visto o anúncio do John no Facebuque, quis logo ficar comigo e ligou para o John para marcar este encontro!*
Gostei imediatamente deles, não tive receio nenhum e corri para eles. Riram-se muito para mim e fizeram-me muitas festinhas.
A minha mamã e avôzinho ainda ficaram um bocado a falar com o John que estava muito emocionado por ter de se despedir de mim. Ficaram com a minha caminha e os meus brinquedos, pois a minha mamã queria que eu me sentisse tão à vontade quanto possível na minha casa nova e levar coisas com o meu cheiro ajudava bastante.
Pegaram em mim e fomos os três muito felizes rumo à nossa casa.
Finalmente, tinha encontrado os meus forever humans!!!Árvores, ramos, raminhos e… podas!
Pelo meu mundo... também andam seres vivos do Reino Plantae que, apesar de serem diferentes de mim, que sou do Reino Animalia, também devem ser tratados com o respeito que qualquer ser vivo merece.
Parece que a minha mamã humana estudou, há uns tempos, uma coisa chamada Agronomia e pretende alertar para a problemática das "podas camarárias" com o seguinte texto:
Podas, mas não umas podas quaisquer, mais especificamente as infames “podas camarárias” de árvores ornamentais que povoam as ruas das nossas cidades e vilas.
Infames porque os cortes drásticos da copa das árvores – “podas camarárias” no jargão florestal – são muitas das vezes desnecessários, agressivos, esteticamente ridículos e geram problemas graves de sanidade vegetal.
As desgraçadas das árvores (normalmente plátanos, tílias, freixos, lódãos bastardos, salgueiros e choupos), muito ocupadas e felizes a gerar novos gomos, raminhos e ramos, são de repente envolvidas numa fúria de motosserras, machados e catanas e demais objetos contundentes.
Se não fossem (apenas?!!) árvores morreriam de susto só pela visualização de tamanho aparato, o que não significa que depois da referida fúria de mutilação não morram na mesma.
Mas, a mutilação de qualquer ser vivo é sempre um ato perverso, gratuito e dispensável...
A ablação da maior parte da copa impede as árvores de obterem reservas fotoassimiladas para poderem iniciar um novo período vegetativo. Assim, as árvores ficam muito enfraquecidas e vulneráveis às mais diversas patologias (e.g. fungos e bactérias) que eventualmente conduzem à sua morte.
Após uma poda intensa segue-se um intenso abrolhamento de gomos adventícios que se formam nos tecidos cicatriciais e que apresentam uma ligação superficial ao tronco, sendo a rebentação extremamente abundante e vigorosa.
Como consequência, nos anos seguintes é de esperar mais intervenções dispendiosas para remoção de ramos mortos e amenizar o emaranhado de ramos longos e finos que se formam. Em pouco tempo, o resultado final é mais prejudicial e desadequado do que a copa existente antes da intervenção.
Quando se procede à realização de podas, os cortes devem ser executados com razoabilidade e respeitar a estrutura do arvoredo, por exemplo: quando existem ramos mortos, danificados ou doentes que podem causar riscos sanitários para o lenho são; quando existem ramos e lançamentos em zonas onde não são desejáveis (rebentões de raiz, ramos ladrões); para criar condições de acesso das folhas à luz e ao ar.
Por tudo o que foi referido:
“Se não há espaço para a árvore é preferível plantar só o arbusto, ou mesmo só a flor e não contar depois com a tesoura para manter com proporções de criança o gigante que se escolheu impensadamente”, Francisco Caldeira Cabral e Gonçalo Ribeiro Telles (1999), A Árvore em Portugal.
Bibliografia:
terça-feira, 19 de agosto de 2014
Formas de crânio dos cães
Dolicocefálico:
a cabeça, particularmente o focinho, é alongada e estreita, e.g. Galgo Afegão, Galgo
Inglês.
Mesaticefálico: é a forma mais comum de crânio nos cães (“mes” significa “meio”), e.g. Beagle, Labrador, Pointer.
Braquicefálico: o crânio é mais arredondado e o focinho é curto (câmaras nasais e mandíbulas mais curtas), e.g. Bulldog, Boxer, Pug.
A forma do crânio, principalmente em raças braquicefálicas, pode levar a uma variedade de condições clínicas, como respiração difícil e ruidosa (o que pode causar problemas de comunicação entre cães e ter como consequência ataques), bem como dificuldades no parto, sendo necessária assistência médica.
Mesaticefálico: é a forma mais comum de crânio nos cães (“mes” significa “meio”), e.g. Beagle, Labrador, Pointer.
Braquicefálico: o crânio é mais arredondado e o focinho é curto (câmaras nasais e mandíbulas mais curtas), e.g. Bulldog, Boxer, Pug.
A forma do crânio, principalmente em raças braquicefálicas, pode levar a uma variedade de condições clínicas, como respiração difícil e ruidosa (o que pode causar problemas de comunicação entre cães e ter como consequência ataques), bem como dificuldades no parto, sendo necessária assistência médica.
Bibliografia: Introduction
to veterinary anatomy and physiology textbook, 2009.
domingo, 10 de agosto de 2014
Treino com Clicker
O treino com clicker é um método baseado em psicologia comportamental que assenta na marcação do comportamento pretendido e recompensa do mesmo, através de um pedaço de comida, atirar uma bola, um passeio no exterior, etc.
Essa marcação do comportamento pode ser efetuada pelo uso de um clicker, um dispositivo mecânico com uma patilha em metal, que quando pressionado emite um som curto e distinto, e assim indica exatamente ao animal quando está a fazer a coisa certa.
Atualmente, já existem clickers eletrónicos que emitem vários tipos de sons e que permitem regular a intensidade do click. Também existem outros tipos de marcadores de comportamento, por exemplo: treinadores de golfinhos usam apitos; para treinar peixes usam-se marcadores luminosos.
Esta forma de comunicação é muito clara e, quando combinada com reforço positivo, é uma forma eficaz e segura de ensinar qualquer animal, qualquer comportamento que o mesmo seja física e psicologicamente capaz de realizar.
Podem ser usadas palavras para treinar um animal, mas a vantagem do clicker, ou outro marcador mecânico, é a consistência e timing facilmente reconhecível. Até treinadores principiantes conseguem determinar se clicaram durante o comportamento pretendido ou um pouco tarde demais, sendo difícil de fazer essa distinção quando se usam palavras.
Verifica-se que o treino com clicker permite acelerar o processo de aprendizagem, diminuir o stress e tornar a experiência mais divertida, tanto para o animal, como para a pessoa que o está a treinar.
Fonte: Karen Pryor, http://www.clickertraining.com/
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
Declaração de Curitiba afirma que os animais não podem ser tratados como coisas
Um dos maiores legados que o III Congresso Brasileiro de
Bioética e Bem-estar Animal deixa é a
Declaração de Curitiba, que oficializa a posição de seus signatários de que os
animais não humanos não são objetos, mas seres capazes de sentir dor e prazer e
que, por isso, não podem ser tratados como coisas.
A ideia para a redação do documento surgiu durante uma
conversa entre dois especialistas brasileiros e um norte-americano, que avaliavam o conteúdo das discussões
apresentadas no congresso: o neurocientista Philip Low, que idealizou a Declaração de Cambridge sobre
a consciência em animais; a médica veterinária Carla Molento; e o advogado Daniel
Braga Lourenço. Os três chegaram à conclusão de que o congresso deveria produzir
uma declaração e juntos escreveram a Declaração de Curitiba:
“Nós concluímos que
os animais não humanos não são objetos. Eles são seres sencientes.
Consequentemente, não devem ser tratados como coisas”, Curitiba, 7 de agosto de
2014.
“Fomos muito além das expetativas nestes três dias únicos,
em termos de desenvolvimento científico e de integração, já que a Declaração de
Curitiba terá um potencial muito grande para auxiliar nas ações relativas aos
animais em todas as esferas, sejam elas científicas ou educacionais”, comemorou a Dra. Carla Molento, que integra a
Comissão de Ética, Bioética e Bem-estar Animal, do Conselho Federal de
Medicina Veterinária (CFMV).
Fonte: http://portal.cfmv.gov.br/portal/noticia/index/id/3912.
Pelo meu mundo... Nova casa e Vet, ou vice-versa?
Saímos do canil e o meu novo humano John diz-me para entrar naquela máquina com rodas. Yes! Passeio!
E foi assim que fui adotado, após 3 meses a viver no canil da associação com os outros patudos. Alguns já vivem no canil há vários anos e anseiam o dia em que algum humano olhe para eles e os veja com olhos de ver, e os leve para casa. Merecemos todos tanto!
Quando chegamos à casa nova estavam à minha espera a menina e outra humana que a segurava ao colo. Assim que me viu, a menina olhou com muita atenção e alegria para mim, apontou e disse: "Pinóquio!"
*Ah, o meu nome era Pinóquio*
Antes de entrarmos na casa, que o meu focinho estava ansioso por explorar, o John diz que o melhor era irmos primeiro ao Veterinário para ter a certeza que estava tudo bem comigo.
*Quando estava no canil conheci uma vez o tal do Veterinário. Deu-me uma pica e não achei piada nenhuma ao encontro*
Entramos todos no veículo e, desta vez, o John colocou-me uma trela diferente que me prendia ao assento da parte detrás, a que ele chamou de "cinto de segurança para cães". Parece que é mais seguro usar essa coisa quando passeamos em cima de rodas.
Chegamos a um edifício que tinha umas letras grandes por cima da porta. Pelas janelas envidraçadas viam-se pessoas de batas brancas e azuis, a andar de um lado para o outro. O John disse que era o Hospital Veterinário onde tratavam muito bem de bichinhos como eu e onde havia muitos biscoitos saborosos.
Entramos e veio logo uma senhora de bata azul dar-me dois biscoitos *nham nham... engoli-os tão depressa que quase nem lhes senti o gosto. Mais?...*
Pouco tempo depois chamaram o meu nome: "Pinóquio, ao gabinete de consultas externas".
Aí, comecei a sentir um friozinho na barriga e as minhas patas pareciam ter vontade própria e não se moviam nem por nada. Foi aqui que o John resolveu pegar em mim e levar-me ao colo para dentro do tal gabinete.
Lá dentro aguardava o Dr. Veterinário, de bata branca, ar sorridente e voz meiga, que afinal não era o mesmo do canil *Parece que afinal os veterinários são vários e estão espalhados pelo País*
Pegaram em mim e colocaram-me em cima de uma mesa alta, cinzenta e fria, que escorregava um bocado.
O Dr. Vet apalpou-me por todos os lados, espreitou para dentro das minhas orelhas, abriu-me a boca e meteu a cabeça lá dentro, viu-me as patas e cortou-me as unhacas, enfiou-me um tubo fininho no traseiro... Ui! Olhou depois para o tal tubo com muita atenção e concluiu que eu estava bem de saúde, mas que tinha muitas pulgas e carraças.
O Dr. Vet pegou então numa pinça de metal e cuidadosamente tirou-me as carraças uma a uma, depois de colocar um algodão embebido num líquido em cima de cada uma delas. Uma, duas... dez... vinte e três... trinta e nove! *Tinha 39 daqueles seres sugadores agarrados a mim? Blhac!*
Recomendou ao John um produto específico para cães, que vem em pipetas, para acabar com as pulgas e evitar que apanhe outros parasitas externos. Perguntou ao John se tinha gatos e avisou-o que este produto é tóxico para os mesmos.
De seguida, apanhou-me distraído com a conversa e enfiou-me um raio de um comprimido pelas goelas abaixo. Parece que é para bicharocos internos, i.e. parasitas internos.
Pensava eu que já estava despachado e o Dr. Vet vira-se com uma seringa na mão! Espeta-me aquela coisa com cuidado e dá-me as tais das vacinas que me vão fazer forte para combater muitas doenças.
*Apesar do aspeto assustador, a pica nem me doeu quase nada, o Dr. Vet tinha jeito para a coisa*
No fim desta minha aventura hospitalar, o Dr. Vet elogiou-me muito, disse que me tinha portado muito bem e que tinha ficado muito quietinho *Tomara! Estava com tanto medo que mesmo que quisesse não me conseguiria mexer 1 milímetro!*
Deram-me mais dois biscoitos e três festinhas e fomos para casa!
*Aqueles biscoitos eram tão apetitosos que nem me importo muito de lá voltar um dia*
Finalmente, entro na minha casa nova e o John mostra-me a minha caminha nova e fofinha, os meus brinquedos novos, coloridos e divertidos (uma cenoura de borracha que apita quando a mordo, um boneco felpudo, uma bolinha e um osso de pele saboroso para eu roer à vontade). Fico também a saber onde estão a minha água e comida saborosa.
Nessa noite dormi um sono profundo e sonhei com os meus amigos patudos do canil. Estavamos todos a correr e a brincar num grande jardim, cheio de aromas variados e fascinantes. Que sonho bom!
(continua)
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
Sinais de Calma
Os sinais de calma são utilizados pelos cães na tentativa de acalmar um agressor, mostrando o desejo de evitar conflitos, em situações que não conseguem ou não podem controlar, tais como situações de medo, dor ou mal-estar, quando são corrigidos ou abordados num tom mais agressivo.
Há uma panóplia de sinais utilizados para este fim, nomeadamente:
- Colocar a cabeça de lado;
- Desviar o olhar;
- Cerrar ligeiramente os olhos;
- Pestanejar excessivo;
- Girar sobre si e oferecer o flanco (acontece principalmente quando um dos cães que está a brincar deseja diminuir a intensidade da brincadeira);
- Lamber os lábios;
- Imobilização e deslocação lenta;
- Vénia ligeiramente diferente à de solicitação de brincadeira, que se prolonga por mais tempo;
- Deitar-se mostrando a barriga;
- Bocejar (maioritariamente quando o cão se encontra inseguro, com medo ou desconfortável);
- Cheirar o chão (deve ter-se em atenção o contexto, é sinal de calma quando exibido devido à aproximação de um estímulo que deixa o animal desconfortável);
- Interpor-se fisicamente entre cães ou pessoas;
- Abanar a cauda lentamente numa posição baixa;
- Lamber a boca de outro cão.
De referir que ao interpretar a exibição de sinais de calma, deve-se ter em consideração o contexto, uma vez que, muitos destes comportamentos podem ser demonstrados noutras ocasiões.
Bibliografia:
Guimarães, I. M. (2013), Comportamento do Cão no Ato de Consulta Medico-Veterinária Profilática, Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa.
Rugaas, T. (2005), El Lenguaje de Los Perros: Las Señales de Calma, Coruña, KNS.
Emoções e Sentimento – Parte II
À medida que se desenvolvem e interagem, os organismos ganham experiência factual e emocional com diversos objetos e situações do ambiente, tendo assim oportunidade de associar muitos objetos e situações que poderiam ter permanecido emocionalmente neutros, com os objetos e as situações que causam emoções naturalmente. A forma de aprendizagem conhecida por condicionamento é uma das maneiras de obter esta associação.
A infiltração da emoção no nosso desenvolvimento e na nossa experiência quotidiana, liga virtualmente qualquer objeto ou situação da nossa experiência, pela força do condicionamento, aos valores fundamentais da regulação homeostática: recompensa ou castigo; prazer ou dor; aproximação ou afastamento; vantagem ou desvantagem; e, inevitavelmente, bem (no sentido de sobrevivência) ou mal (no sentido de morte).
A emoção e o mecanismo biológico que lhe é subjacente são os companheiros obrigatórios do comportamento, consciente ou não.
Um exemplo: quando em presença de uma fonte de alimento ou sexo um animal desenvolve um comportamento de aproximação e exibe manifesta alegria; bloquear o seu caminho e impedi-lo de conseguir os seus objetivos causará frustração e até zanga, uma emoção muito diferente da felicidade. O indutor da zanga não é a expetativa de comida ou do sexo, mas sim do impedimento do comportamento que conduzia o animal para o consumar da boa expetativa. Outro exemplo seria a suspensão súbita de uma situação de castigo, o que induziria bem-estar e até alegria.
De facto, podemos encontrar a configuração básica das emoções nos organismos simples, mesmo nos organismos unicelulares, e até somos capazes de atribuir determinadas emoções, como a felicidade, o medo ou a cólera, a criaturas muito simples. Fazemos essas atribuições de emoção baseando-nos apenas nos movimentos do organismo, na velocidade de cada ato, no n.º de atos por unidade de tempo ou no estilo dos movimentos. Tal deve-se a que a emoção, como o nome indica, tem a ver com o movimento, com um comportamento tornado externo, com certas orquestrações de reações a uma dada causa, num dado meio ambiente.
Um dos seres vivos que mais contribuiu para o progresso da neurobiologia é um caracol marinho Aplysia californica. Têm sido realizados grandes avanços no estudo da memória utilizando este caracol gigante que pode não ser dotado de uma grande inteligência, mas tem numerosos comportamentos interessantes e um sistema nervoso decifrável do ponto de vista científico. O Aplysia não tem sentimentos como nós, mas tem qualquer coisa que não é dissemelhante das emoções.
Dor e prazer fazem parte de duas genealogias diferentes da regulação vital. A dor está alinhada com o castigo e associada com comportamentos como o recuo e a imobilização. O prazer está alinhado com a recompensa e associado a comportamentos como a curiosidade, a procura e a aproximação.
O castigo leva os organismos a fecharem-se sobre si mesmos, imobilizando-se e retraindo-se do seu meio ambiente. A recompensa leva os organismos a abrirem-se para o exterior, explorando os seus limites e, ao fazê-lo, aumentando simultaneamente, tanto a sua capacidade de sobrevivência, como a sua vulnerabilidade.
Esta dualidade fundamental é manifesta numa criatura tão simples e tão não-consciente como a anémona-do-mar. A essência da alegria e da tristeza, da aproximação e da fuga, da vulnerabilidade e da segurança, são visíveis na simples dicotomia do seu comportamento.
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